sexta-feira, 29 de março de 2024

O que procuras?

Escrever-te é uma forma, algo desengonçada e improvisada, de matar as saudades que me assolam o coração. Penso nisso enquanto vou observando a estrada lá fora. São 11 da manhã, mas parecem 8. Doem-me os olhos de dormir pouco e trago o estômago ainda agoniado de ontem; não cheiro a tabaco porque deixei de fumar; mas possivelmente trago comigo o álcool que consumi. Pergunto-me onde estiveste tu ontem e onde estás tu hoje. Pergunto-me, porque desde que te escrevi há poucos dias, tenho-te trazido mais presente no meu pensamento. É curioso, sabes? Se não te escrevo, sinto-me como se uma parte de mim faltasse; como se as saudades me fossem devorando e corroendo por dentro, até que ficasse só o essencial para que o meu corpo se mova. Se te escrevo, alimento-me dos sentimentos que vou guardando para criar as palavras que te confesso. E, quando isso acontece, sinto que quero e preciso de te escrever todos os dias. Porque viver os sentimentos que vou guardando de ti enchem-me de uma qualquer sensação de paz, carinho e amor, que não encontro noutro lugar do mundo. É uma sensação muito parecida a quando nos deitamos juntamente com alguém, de quem gostamos, e nos embrulhamos, com a cabeça nas costas da outra pessoa, deixando-nos embalar pelo respirar lento e compassado. Sei que é tudo isto que procuro quando te escrevo; as palavras ocultam parte da solidão que me deixaste e, de certa forma, fazem-me crer que ainda não endoideci - que o que vivemos foi ou é real. O que nunca consigo descobrir é o que procuras tu; o que esperas ou, acima de tudo, desejas encontrar. Seja o que for, quem me dera que me dissesses. Quem me dera que tivesses a audácia de me bater à porta. Quem me dera que os meus olhos pudessem finalmente assentar nos teus. Quem me dera, porque eu continuo a desejar tanto viver este amor. Viver esta história, num mundo em que, apesar de não te ver, tudo me faz lembrar de ti. 

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