terça-feira, 26 de março de 2024

Madly in love?

K. de Cigarettes After Sex está a tocar. Não sei se gostas de Cigarettes After Sex. Apesar de esta melodia me lembrar vividamente da paz que a tua voz me transmite, nunca falamos das músicas deles. Trocámos muitas impressões, durante anos, sobre o que gostávamos de ouvir. Eu contava-te o que me acalmava a alma e tu falavas de cor as letras das tuas músicas favoritas. Ou daquelas que, por alguma razão, te diziam algo. Somos diferentes em muitas coisas; mas apesar de termos gostos musicais que, em alguns momentos, se cruzavam, sempre nos distinguimos naquilo a que dávamos importância. Para ti, as palavras eram tudo. Eras capaz de me sussurrar várias letras, como se elas estivessem cravadas na tua alma e tivessem sido escritas para ti ou para nós. Tinhas esse dom, de encontrar quaisquer palavras perdidas e de atribuir-lhes um significado que eu não sabia dar-lhes. Já eu focava-me noutras coisas. Ligava menos às palavras e mais à melodia de fundo. Aos violinos e aos violoncelos que acompanhassem a voz do artista; aos sons que só se captavam se fecharmos os olhos e se nos focarmos nos mais pequenos pormenores. E, enquanto isso e em segredo, focava-me em ti. Nas palavras que me contavas; nas músicas que falavam por ti e que, quem sabe, diziam o que não serias capaz de transpor em palavras. Apaixonava-me por ti, como se me deixassem ceder a uma tentação silenciosa e inevitável. Estás a pensar nisso agora, pensas tu, enquanto te questionas do porquê. Provavelmente, existirão muitas razões que desconheço. Suspeito que a principal delas todas é a mesma de sempre: tenho saudades tuas. Saudades que um abraço grande não curaria. Saudades que um beijo longo seria talvez capaz de, temporariamente, esconder. Tenho saudades de ouvir a tua voz. De saber ouvir os teus passos; de dar pela tua presença. Por mais tempo que passe e que tente ocupar com outras pessoas, tu não desapareces nunca. E eu vejo-te em todo o lado. Vejo-te em todas as amostras de amor e pergunto-me, repetidamente, se tu sentirás o mesmo. Se também te emocionas com as minhas palavras, como eu me emociono a escreve-las, ainda que com o tempo me vá faltando destreza que outrora tinha. O tempo passa, mas será que algo muda? Ou estará a vida à nossa espera, para que tudo se torne diferente? 

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