segunda-feira, 4 de março de 2024

Não estou certa de que existam palavras certas. Mas suspeito que não existam palavras erradas. Tudo o que sentimos merece ser escrito e exposto. Tudo tem dignidade suficiente para ver a luz do dia. Tudo: inclusive o sentimento, aquele, que se me assemelha a um café mal tirado e amargoso, com borra no fim e incapaz de nos saciar o desejo por mais um bocadinho de cafeína. Ainda assim, reconheço que durante os últimos dias esforço-me por evitar pôr em palavras sentimentos que, como esse, me têm desconcertado tanto a espinha. Opto, forçosamente, por guardá-los para mim. Da mesma forma que sempre guardei para mim, ao longo destes anos todos, as perguntas difíceis que ainda tinha para te fazer. E sinto que essa ausência de saber - a dificuldade em compreender - corroem o amor que sinto. Que mais se vai parecendo, ultimamente, com ferro enferrujado. Que ficou demasiado tempo submerso. Que se foi tornando cada vez mais desgastado, desfigurado e inapto para as funcionalidades originais. Tudo isto se tem assemelhado a isso. E, por isso, sinto-me como se me tivessem batido repentina e repetidamente nas costas. As minhas pernas começaram a cair, os joelhos fraquejaram e o meu corpo cedeu. Estou certa de que tudo isto significa algo. E que, por mais que custe, não há outra saída.

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