sábado, 9 de março de 2024

Flashes

Dizem que os sonhos têm uma duração aproximada, e real, de dois segundos. O que significa que demoramos dois segundos a criar um enredo nas nossas mentes, ou a reviver um enredo que já vivemos. Penso nisto, porque me recordo que esta noite sonhei contigo. Sonhei que voltavas, para me dizeres que sempre estiveste por aqui. Que estavas a olhar por mim, quando mais ninguém dava conta. Não estou certa de que, no seu todo, as minhas imagens de ti só tenham durado dois segundos. Porque falámos, como se o dia de amanhã não existisse. As nossas mãos tocaram-se e os meus olhos, que andam cansados de largas horas em frente a um ecrã, não largavam os teus. Se te sou sincera, não sei ao certo do que falávamos. Sei que, entre sussurros, me dizias que “agora podias estar aqui”. Lembro-me de achar que, em retrospectiva, a tua presença sofria intermitências. Havia momentos em que te via; e outros em que simplesmente não te conseguia encontrar. Não sei se alguma vez to confessei, mas acho que o que me mais me atormenta é não saber de ti. Não ter noção se estás bem, se a vida te sai de feição, se a rotina te mantém demasiado ocupada, se estás a conseguir conquistar os teus sonhos. Sabes que sou uma pessimista por natureza e, talvez por isso, vivo angustiada e com um medo, maior que eu, de que um dia já não estejas por cá e eu nunca o venha a saber. Porque acho que nunca me foi dada oportunidade de me despedir de ti. De te olhar nos olhos e deixar que vás seguir o caminho que sentes que é teu. Está claro que, associado a isso, me atormenta que nunca tenhamos a nossa chance. Que o que vivemos, até hoje, seja apenas fruto de palavras, quando tinha potencial para saber tanto mais. Tenho medo, acima de tudo. Medo que um dia a vida acabe sem que os meus olhos possam focar-se nos teus; sem que os nossos lábios se possam provar; sem que os nossos corpos se possam entregar a um amor que ainda vive em nós; sem que as nossas rotinas se cruzem; sem que possamos chegar a casa para a companhia uma da outra. É que, apesar de eu ser totalmente avessa ao risco, contigo sempre quis arriscar tudo. Contigo, prefiro arrepender-me do que fiz, do que do que não fiz. E todos esses sentimentos, que os julgava efémeros, vão-se mantendo com o tempo. Vão continuando aqui. E eu vou ficando com eles. Porque, independentemente do que aconteça, continuas a ser o meu sonho mais bonito. 

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