domingo, 4 de fevereiro de 2024

Honesty bar

Tenho a sensação de que não tenho sido completamente honesta e fiel aos meus sentimentos. Tenho-me escondido no silêncio ou, quando as forças assim me permitem, em palavras que enchem o olho a quem ainda me lê. Tenho de reconhecer que essa foi a forma que encontrei para garantir que este espaço se tornava relativamente consensual. Que era evidente que, apesar de pensar em ti, reconhecia as circunstâncias e aceitava-as. Sei que o fiz, em parte, porque te queria proteger e, por inerência, beneficiar-me a mim. Nunca quis que este espaço deixasse de ser seguro e achei que se guardasse o “pior” para mim poderias voltar a sentir-te livre e a confiar-me essa tua liberdade. Ao mesmo tempo, reconheço que o fiz também por mim. Porque me queria convencer das palavras que te transmitia e queria acreditar que, apesar de tudo, a tua felicidade com outra pessoa encher-me-ia a alma. Menti. Permiti que as minhas palavras te mentissem e, sobretudo, que me mentissem a mim. Sinto que, de algum modo, a pressão social influenciou-me a escolher este caminho. A sociedade parece querer incutir-nos esta ideia de altruísmo quase cego; que o amor desmedido por alguém leva-nos a desejar a felicidade da pessoa que amamos, ainda que o preço disso sejamos nós próprios. Considero-me uma pessoa relativamente altruísta e não sou contra essa ideia. Mas suponho que a levei longe demais. Porque, apesar de tudo, não posso dizer que continue a desejar desmedidamente a tua felicidade. Desejo-a, mas dentro de certas circunstâncias. Desejo-a, mas se ela for mesmo felicidade, e não só algo que o tempo carrega com conforto. Perdoa-me pela sinceridade destas palavras, que provavelmente carregam alguma mágoa. Mas este amor é, também ele, em parte mágoa. Porque sinto, talvez injustificadamente, que te poderia ter dado muito mais. Tenho pensado muito nisso; muito em ti e na forma como tudo aconteceu. Como me apaixonei tão depressa, apesar de só to ter confessado semanas depois. Como me voltei a apaixonar agora, depois de tudo. Sempre que voltaste, criei na minha cabeça a história que queria contar aos nossos descendentes, se os viéssemos a ter. Imaginei como seria tudo, certa de que seria muito melhor do que qualquer suspeita que tivesse. E refleti, acima de tudo, sobre o que outrora fomos. Sobre o que deixámos para trás e sobre o qual nunca falámos. Quero que um dia construamos essa história. Quero e preciso de ti para ser feliz, na minha plenitude: para encontrar o meu lugar, para te encontrar e para me encontrar a mim. Ainda sinto que há algo que nos une; como se algo se acendesse no momento que nos tocássemos ou que os nossos olhares se trocarem. Quero abraçar-te, puxar o teu cabelo para o lado, dar-te um beijo no pescoço e outro nas têmporas, enquanto te afago a cabeça, para depois te sussurrar ao ouvido que continuo aqui. Quero-te como se o dia de amanhã não chegasse. E não quero querer-te menos, porque não tenho conseguido querer menos. Por mais que encontre amor noutros sítios, e tenho-o procurado, suspeito que seja como dizem e que não exista amor como o primeiro. Aquele em que nos atiramos de cabeça e, quando damos por nós, já é tarde demais para sair da água. O tempo está bom demais, a temperatura está quente e o nosso corpo sente-se abraçado por sentimentos que não encontra noutro sítio. És tudo isso e um bocadinho mais. Perdoa-me a sinceridade das minhas palavras, mas acho que se torna evidente que não consigo desejar-te a mesma felicidade que tenho posto proclamado desejar nas minhas últimas confissões. Acima de tudo, porque quero que a vivas aqui, comigo. 

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