quinta-feira, 18 de abril de 2024

Acidentes acontecem

A vida não me tem permitido vir mais vezes aqui. A vida e, quem sabe, a minha sanidade mental. As últimas semanas têm sido difíceis de aguentar. Os últimos dias, em particular, encarregaram-se de me levar ao fundo. Acho que não é verdade o que dizem sobre vermos a vida passar pelos olhos quando vivemos uma experiência de terror, em que a vida está apenas numa corda bamba. Não é verdade porque nem temos tempo. Vivemos o sufoco, o pânico, mas não temos tempo para ver a vida diante de nós. Acho que aquilo que verdadeiramente não sabemos é que estas coisas podem acontecer do dia para noite. Não nos apercebemos dessas probabilidades quando tudo corre bem; até que deixa de correr. Tenho pensado muito nisso, depois de tudo o que aconteceu. Tenho pensado que se te acontecesse alguma coisa eu nunca saberia. Da mesma forma que tu não soubeste quando, esta semana, me arrisquei a lidar com um desfecho que podia ter sido muito negativo. Até hoje não sei ao certo o que aconteceu; não sei se os meus olhos fecharam por segundos, se a minha atenção desviou para outra coisa, se o cansaço e o stress não me deixaram reagir a tempo. Não sei e suspeito que provavelmente permanecerei sem saber. O que sei é que a vida não nos passa diante dos olhos, porque nos momentos que se seguem só conseguimos pensar em como nos desenvencilhar para não mergulhar ainda mais no abismo. Depois disso, revivemos o momento como se ele estivesse a acontecer outra vez. Ouvimos o som do embate no carro da frente; a força com que vamos a frente; sentimos repetidamente o embate dos airbags e relembramos o cheiro do pó que sai dos sistemas de segurança do carro. Há um zumbido e pouco mais. E nos dias que se seguem, enquanto revivemos tudo isto, pensamos em tudo o que andamos a perder; em tudo o que não conseguimos viver. De forma quase inevitável, pensei em ti e os meus pensamentos trouxeram-me aqui. Acho que, depois de tudo o que aconteceu nos últimos dois dias - que quase pareceram durar uma semana -, não havia nada que desejasse mais do que chegar a casa para ti. Do que ter um espaço para chorar, enquanto o coração me apertava. Do que ouvir de ti que tudo vai ficar bem. 

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