Por vezes, o silêncio fala por nós. E eu guardei-me no silêncio para ele. Os olhos dele concentravam-se em mim e a minha voz, que tem sempre tanto para dizer, não disse nada. Ele insistiu, quase a suplicar, explicando que o corpo dele precisava do meu. Que queria sentir-me uma última vez, como se o amanhã não existisse. Tudo me pesou na consciência, nesse momento. Sinto que os meus olhos deixaram de o ver e, de repente, foi como se só te visse a ti. Como se os teus olhos estivessem à minha procura no escuro e eu tivesse atravessado o deserto para te encontrar. Trago a garganta seca e a precisar de uma hidratação que só tu me dás. E ultimamente, por razões que desconheço, tenho esta sensação de que também procuras por um copo de água - que, quem sabe, seja capaz de te matar a sede a este amor. Afastei-me dele quando me apercebi que tudo estava a acontecer, outra vez: os nossos lábios encontraram-se, mas o teu nome incomodava-me o peito e não havia nada que te tirasse da minha memória. Tenho plenamente presente na minha cabeça que não te devo nada; que não somos absolutamente nada; e que, pelo andar da carruagem, tão cedo não seremos qualquer coisa. Ainda assim, quem sabe se por força de sentimentos que fui descobrindo, senti-me incapaz de lhe tocar mais. De me entregar a ele. Senti-me como se, naquele momento, te estivesse a trair a ti e, sobretudo, a mim. Tem-se tornado claro que os sentimentos que foram ficando, que te pertencem a ti, correm-me no coração. Se te sou honesta, quem me dera poder vivê-los. Quem me dera que, também tu, desses este salto - sabes que estaria sempre aqui, para te amparar. Seja como for, não te peço que o faças. Porque só quero que sejas feliz. E que, se assim tiver que ser, essa felicidade nos encontre a nós.
Tenho pensado muito em ti. Tenho vindo aqui muitas vezes; ainda que, na maior parte delas, me reserve ao silêncio. Leio e releio o que te escrevo, acreditando que por vezes o silêncio diz muito mais do que qualquer palavra que registe.
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