segunda-feira, 18 de dezembro de 2023

Acho que te escrevo com o intuito de tornar os meus sentimentos imortais. Bem sei que, provavelmente, nada de nós, do que somos ou do que fomos, se tornará imortal. Mas sinto que, quanto mais registo, melhor asseguro que daqui a uns anos, mesmo quando a memória me faltar e já for difícil aguentar a velhice, serei capaz de lembrar que a vida me deu alguém como tu. Que te tive, nas mãos, enquanto te mostrava que o amor podia ser muito mais do que só isto. Tenho muitas saudades tuas. Digo-to vezes sem conta, arriscando-me a gastar a palavra saudade. Mas reconheço que não há outro sentimento como este; que, possivelmente, não terei outra oportunidade na vida de sentir algo assim, por mais ninguém. Tenho tentado; ainda que aqui vindo, tenho-me esforçado para te tirar da minha pele. Para tirar o teu nome dos meus lábios. Para esquecer como a tua voz, que sempre me prendeu a atenção, me aquece a alma. Para me libertar da sensação de não haver ninguém neste mundo como tu. E, no fim do dia, para me entregar à audácia de amar outra pessoa. De me desfazer de um amor que tanto me tira a respiração e que tão pouco me tem dado. Tento fazer esse esforço, porque me recordo das tuas últimas palavras e de como, em tão poucos vocábulos, me confessaste que certamente não me poderias dar o que eu procurava. Foco-me nisso, a pretexto de te esquecer. De me esforçar para me recordar de ti apenas como uma miragem; como alguém que podia ter sido, e não foi, com uma sensação de naturalidade ante as circunstâncias da vida. Confesso-te, porém, que esta é uma tarefa difícil. Não te direi, porque não seria verdade, que não há outras pessoas como tu no mundo. Certamente haverão milhares; tantas que inclusive já me passaram diante dos olhos. O que sinto, e que já te poderei ter dito algumas vezes - desculpa pela insistente repetição -, é que só há um momento na vida em que duas pessoas se cruzam e não se querem libertar uma da outra. Isso vê-se nas pequenas coisas; vê-se, ainda que a sala esteja às escuras e os meus olhos não consigam verdadeiramente afirmar se estás por aqui. Vê-se, porque deixamos pegadas no chão. E eu vejo as tuas. Vejo como, de quando em vez, procuras por este amor. Como se quisesses respirar as minhas palavras e lembrar-te que elas existem. Como se este fosse o espaço onde o teu coração é abraçado, ainda que os meus olhos não te consigam encontrar para te comprovar a grandeza do que sinto. Grandeza essa que, felizmente ou infelizmente, não se mede em tamanho. Não serei, certamente, a portadora do maior amor por ti. Mas sinto que este amor é enorme, que tem aguentado as piores marés; que conhece alguns dos teus segredos mais obscuros e que não os vê com inferioridade. Durante todo este tempo, estive pronta para abraçar a totalidade do teu ser; para te receber nos meus braços e te confessar que tudo o que sempre quis foi que voltasses. Que o resto, o tempo tratará de resolver e de encaminhar. Talvez seja tudo isto que tento, a esforço, imortalizar. Porque não quero nunca que te esqueças de mim ou da forma como, mesmo nos dias de tormenta, me propus a amar-te. Por esse motivo, sei que vou sempre viver com a incerteza do que podíamos ter sido. E saberei que esta incerteza também te acompanhará, acentuando-se nos dias menos bons, em que tudo parece estar virado do avesso. Porque sei que continuas por ti. Sei que continuas a consumir as minhas palavras e tudo o que sabes que elas trazem consigo. Sei-o porque, provavelmente, vou sempre conhecer-te tão bem como tu te conheces a ti. Tudo isto faz parte de nós. Resta saber o que podemos, ou não, fazer com isto - para que nada se desperdice; para que nada seja em vão. 

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